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Capítulo 2

Amazônia: pesquisa
acima do dossel da
floresta

Torre ATTO, a 150 km a nordeste de Manaus, na floresta amazônica. Acervo Paulo Artaxo

A Amazônia oferece informações cruciais às ciências atmosféricas. Mas a região só começou a ser investigada por pesquisadores brasileiros de forma sistemática a partir de meados dos anos 1990. Até então, a maior parte dos estudos era realizada por agências estrangeiras, com a participação limitada de cientistas do país. No Brasil, as pesquisas nas áreas da meteorologia e da climatologia eram incipientes até os anos 1970, quando começaram a se estruturar o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) entre outros. 

A grande virada se deu com o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), um programa multidisciplinar lançado em 1996, envolvendo pesquisadores brasileiros, norte- Estados Unidos e de cinco países europeus, com o objetivo de entender em profundidade o funcionamento e a interação de todos os componentes do ecossistema amazônico — atmosfera, solos, rios, flora, fauna e seres humanos. A iniciativa foi financiada pelos parceiros externos e os pesquisadores brasileiros foram apoiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Carlos Nobre, um dos idealizadores LBA e cientista-chefe do programa desde a sua criação até 2004, conta como foi concebido esse empreendimento.

O Programa LBA

CARLOS NOBRE - CATEDRÁTICO DO IEA-USP E
CO-PRESIDENTE DO PAINEL CIENTÍFICO PARA A AMAZÔNIA

"A primeira reunião, em novembro de 1993, na NASA, reuniu cientistas de vários países da Amazônia, dos Estados Unidos e de cinco países europeus."

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As campanhas de medições intensivas do programa LBA mostraram a gravidade do que estava acontecendo na Amazônia. Constatou-se, por exemplo, o alongamento do período de secas e o fato de que algumas áreas de floresta perderam a capacidade de remover carbono, tornando-se fonte de carbono. Nobre resume alguns desses resultados.

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A Amazônia em risco

CARLOS NOBRE CATEDRÁTICO DO IEA-USP E
CO-PRESIDENTE DO PAINEL CIENTÍFICO PARA
A AMAZÔNIA

"O experimento LBA mostrou que toda estação seca já está quatro a cinco semanas mais longano Sul da Amazônia até a Bolívia e agora, nos últimos anos, até a planície na Colômbia e noPeru."

Memórias de campo por Maria Assunção Faus da Silva Dias

Geofísica, que participou de várias campanhas do programa LBA, mostra imagens de seu acervo e comenta expedições a Rondônia e ao Pará

Esses esforços de pesquisa geraram uma grande quantidade de dados que devem alimentar novas descobertas por décadas. “Os dados ficam para sempre, como uma fonte de novas coisas que podem ser destrinchadas, de uma maneira que ninguém nunca pensou”, comenta a geofísica Maria Assunção Faus da Silva Dias, que também descreve, no vídeo abaixo, o ambiente de uma das primeiras campanhas, em 1999.

Primeiras
campanhas do
programa LBA

MARIA ASSUNÇÃO FAUS DA SILVA DIAS - GEOFÍSICA

"Consegui um recurso da FAPESP para falar lá de igual para igual com eles [pesquisadores estrangeiros]. Nós passamos mais de dois meses fazendo medidas, treinando estudantes."

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A Amazônia e o equilíbrio climático

Inicialmente, as pesquisas nas ciências atmosféricas na Amazônia buscavam entender o papel desse sistema no clima brasileiro. Hoje, no entanto, as questões levantadas são mais complexas, urgentes e globais.

A Amazônia é essencial para o equilíbrio climático. Seu ecossistema armazena 120 bilhões de toneladas de carbono, o maior repositório do planeta. Ela é a maior fonte de vapor d’água na atmosfera tropical e a sua biodiversidade é a base da resiliência de todo esse sistema. E esse equilíbrio precisa ser preservado, conforme afirma o físico Paulo Artaxo no vídeo a seguir.

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Aspectos de importância sistêmica da floresta amazônica

PAULO ARTAXO - FÍSICO

"A maior parte dos brasileiros realmente não tem uma visão da relevância da importância da preservação da biodiversidade da Amazônia."

Aspectos de importância sistêmica da floresta amazônica

PAULO ARTAXO - FÍSICO

"A maior parte dos brasileiros realmente não tem uma visão da relevância da importância da preservação da biodiversidade da Amazônia."

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“A humanidade tem tarefas difíceis nas próximas décadas”, diz Paulo Artaxo. “A primeira e mais importante é reduzir as emissões de gases de efeito estufa construindo uma economia de baixo carbono que possa estabilizar a mudança climática em algum nível. E a segunda tarefa, igualmente importante, é se adaptar ao novo clima porque o clima já mudou.”




A questão climática entra na agenda global

Um marco no debate global sobre mudanças climáticas ocorreu na Conferência de Estocolmo, em 1972, que alertou sobre alterações significativas causadas pela ação humana. Desde então, os estudos sobre mudanças climáticas evoluíram até o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2007, que colocou a questão no centro da agenda política mundial. O Brasil e a ciência nacional têm se destacado nas ciências do clima – com reconhecimento crescente ao longo dos anos. Boa parte dos dados do IPCC naquele relatório marcante foi produzida pelas equipes da USP e do Inpe.

No ano seguinte, em 2008, a FAPESP lançou o Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), que promove pesquisas sobre temas como mudanças nos estoques de carbono, padrões de chuvas, aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos. O programa tem como objetivo contribuir para estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. O programa tem como objetivo contribuir para estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Com o passar do tempo, ele passou a abranger outros temas, como saúde, urbanização e agricultura, além dos climáticos e ecológicos, e mantém a Amazônia como um de seus principais focos, como Pacheco destaca no vídeo a seguir.

Pesquisas acima e abaixo do dossel da floresta

MÁRCIO DE CASTRO – DIRETOR CIENTÍFICO DA FAPESP

"As pesquisas apoiadas pela FAPESP na Amazônia têm dois eixos de atuação: o primeiro, acima do dossel da floresta, e o segundo, abaixo do dossel, com foco na população da região"

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Integrada ao programa LBA, foi criada também a campanha GOAmazon (Green Ocean Amazon), em 2013, para investigar a relação entre as atividades humanas e a floresta, tendo Manaus como laboratório. A campanha reuniu cerca de 100 pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Alemanha, em seis projetos colaborativos, para examinar a poluição urbana que é transportada para a floresta tropical, alterando as características das nuvens e afetando o regime de chuvas.

Para isso, utilizaram radares e outros equipamentos instalados em seis postos de observação, além de sobrevoos de um avião de pesquisa dos Estados Unidos e da Alemanha. A iniciativa foi apoiada pela FAPESP, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos. Um dos achados da campanha GOAmazon foi que as emissões urbanas de Manaus, ao produzirem altas quantidades de ozônio, danificam os estômatos da vegetação, reduzindo os serviços prestados pela floresta.

Um experimento mais recente é o AmazonFACE, que busca responder a uma pergunta crucial para o futuro da floresta: “Como o aumento de CO2 atmosférico afeta a floresta amazônica, a biodiversidade que ela abriga e os serviços ecossistêmicos que ela fornece a humanidade?” Para encontrar respostas a essa questão, os pesquisadores estão expondo uma área da floresta ao norte de Manaus a uma concentração de CO2 50% maior que a encontrada atualmente na atmosfera para medir sua capacidade de absorção. As pesquisas são apoiadas pelo Reino Unido, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pela FAPESP, no âmbito do Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas. David Lapola, coordenador do AmazonFace,fala sobre o AmazonFACE.

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O experimento AmazonFACE

David Lapola - pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas.

O desafio de avaliar os efeitos da fertilização por CO2

A floresta Amazônica está em risco e a ciência segue buscando meios e modos de mitigar os efeitos do desmatamento e das mudanças climáticas nessa região estratégica para o futuro do planeta, como alerta Thelma Krug.

Impacto do desmatamento e da mudança do clima

THELMA KRUG – LÍDER DO CONSELHO CIENTÍFICO DA COP30

"A floresta amazônica é citada como estando próximo ao que se chama de ponto sem retorno"

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A FAPESP e os grandes programas de pesquisa

1966

Projeto Amazonas - Levantamento Faunístico, Ecológico e Econômico dos Recursos Pesqueiros do Amazonas (mais adiante, passou a chamar-se Expedição Permanente à Amazônia)

1996

Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA)

1999

Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP)

2008

Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG)

2014

Campanha GOAmazon

2022

Iniciativa Amazônia +10 (CONFAP)

Coleta de dados

Em 2015, uma importante infraestrutura de pesquisa foi implementada na floresta: o Observatório de Torre Alta da Amazônia, financiado pelo governo alemão Instituto Max Planck e a Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep). Sua estrutura mais alta possui 325 metros de altura e está instalada na Reserva do Uatumã, a 150 km de Manaus. A torre está equipada com sensores e radares que coletam dados sobre gases de efeito estufa, partículas de aerossóis, propriedades de nuvens e transporte de massas de ar, entre outros dados.

As informações geradas são transmitidas para os laboratórios do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Universidade do Estado do Amazonas e do Instituto Max Planck de Química e Biogeoquímica, da Alemanha, parceiros do projeto. Agências de fomento estaduais, entre elas a FAPESP, financiam projetos de pesquisa na torre, incluindo a investigação da origem dos aerossóis atmosféricos presentes nas nuvens da região amazônica em condições livres de poluição.

A Torre Atto

Outras estratégias de fomento da FAPESP também tiveram grande impacto nas pesquisas em geral sobre a Amazônia nas últimas décadas. Entre elas, destacam-se diversos projetos temáticos, uma modalidade de apoio que oferece apoio a pesquisas mais ousadas, de longo prazo, e que envolve pesquisadores de diversas instituições. No vídeo a seguir, Paulo Artaxo destaca como os projetos temáticos impactaram a área de ciências atmosféricas.

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Projetos temáticos na Amazônia

PAULO ARTAXO - FÍSICO

“Felizmente, com o apoio da FAPESP, eu consegui um primeiro projeto temático. A gente começou a estudar os impactos da Amazônia no clima global, a questão de emissões de queimadas."

Projetos temáticos na Amazônia

PAULO ARTAXO - FÍSICO

“Felizmente, com o apoio da FAPESP, eu consegui um primeiro projeto temático. A gente começou a estudar os impactos da Amazônia no clima global, a questão de emissões de queimadas."

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Desde a criação dessa modalidade de apoio, nos anos 1990, até 2024, a região amazônica foi tema de 80 projetos temáticos nas mais variadas áreas, como se vê no infográfico abaixo.

Amazônia:
Projetos temáticos por área do conhecimento

Imagem com o número de projetos por área de conhecimento

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