Anos 1960
"E certo é que a concessão de bolsas constitui imperioso investimento na formação do elemento fundamental para a ciência e tecnologia - o pesquisador.” (Alberto Bononi)
FAPESP começa a funcionar já com grandes projetos na década de 1960, como as viagens da equipe de Vanzolini à Amazônia
Na década de 1960, começam oficialmente os trabalhos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a FAPESP. Inicialmente em salas improvisadas ligadas à Universidade de São Paulo, a fundação instalou-se num andar de edifício na Avenida Paulista em 1963, e lá funcionou por mais de 15 anos. Este período é marcado pelo começo de projetos especiais da instituição, como as pesquisas lideradas pelo zoólogo Paulo Vanzolini na Amazônia, além do investimento em infraestrutura para uma série de estudos, da História à biotecnologia.
O golpe militar de 1964 e seu recrudescimento político após o AI-5, em 1968, levou a perseguições e ao afastamento de professores em São Paulo, um revés importante na história intelectual do país. Esse momento foi sem dúvida muito duro para diversos estudantes, cientistas, professores e dirigentes. Mas há, ao mesmo tempo, uma movimentação favorável do ponto de vista de infraestrutura: o ensino superior se expandiu neste período, e, além disso, foram criadas agências e políticas de financiamento para a ciência pelo governo federal. O trabalho da FAPESP, ainda que no âmbito do Estado de São Paulo, certamente foi impactado por este contexto.
“A FAPESP, apesar de ter sua imagem associada a universitários e intelectuais, sobreviveu às intimidações recebidas, a acusações de que estaria apoiando ‘comunistas’, a pressões para cortar bolsas ou fornecer endereços de bolsistas ‘de esquerda’”, afirmam Francisco Assis de Queiroz e Lincoln Taira, em um dos capítulos do livro “Fapesp – Uma História de Política Científica e Tecnológica”. “Os diretores se mantiveram fiéis ao princípio que norteou a Fundação, de apoiar o pesquisador e seu projeto, independente de posição política, religiosa, etc. (…) A Fundação não só sobreviveu, como se expandiu consideravelmente”.
Primeiros momentos e institucionalização
No dia 18 de outubro de 1960, o governador Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto assinou a Lei nº 5.918/60, que autorizou a criação da FAPESP. Um conselho superior formado em maio de 1961 ajudou a indicar os primeiros dirigentes, que seriam escolhidos pelo governador, além de elaborar o estatuto da fundação. O jurista Miguel Reale, então professor da Faculdade de Direito da USP, ficou responsável pelo parecer sobre a personalidade jurídica da instituição, que teve os estatutos aprovados e promulgados no Decreto nº 40.132, de maio de 1962.
O professor da Faculdade de Medicina da USP Antonio Barros de UIhôa Cintra foi escolhido o primeiro presidente da FAPESP. Outro marco deste período, em 1963, foi a instalação definitiva da fundação no 14º andar do Edifício Louis Pasteur, na Avenida Paulista, nº 352.
Primeiros projetos apoiados e criação do Projeto Expedição Permanente à Amazônia
A FAPESP forneceu verba para projetos como o da construção de um radiotelescópio em São Paulo; apoiou estudos sobre Stevia rebaudiana; ajudou a montar os Arquivos de Fotografias Aéreas (AFA) e a implantar o Centro de Documentação Histórica no Departamento de História da USP, entre outros projetos.
Em 1966, foram dados os primeiros passos do Projeto Amazonas, posteriormente denominado Projeto Expedição Permanente à Amazônia. Com a liderança do zoólogo Paulo Vanzolini, equipes de pesquisa ligadas à Universidade de São Paulo, entre outras instituições, começaram a mapear a fauna amazônica.
Este trabalho enriqueceu com milhares de amostras a coleção do Museu de Zoologia da USP. A FAPESP também forneceu recursos para a construção de dois barcos no Pará que seriam usados em viagens científicas a regiões inexploradas da Amazônia.
Em investimentos mais voltados para a infraestrutura, a fundação financiou a criação do Laboratório de Química de Produtos Naturais. Supervisionado por Otto Richard Gottlieb e Paschoal Senise, o laboratório isolou mais de 1000 substâncias a partir de plantas e da verificação do quimismo dos vegetais em várias regiões, segundo o livro “Atividades de Fomento à Pesquisa e Formação de Recursos Humanos Desenvolvidas pela FAPESP entre 1962 e 2001”, de Alberto Carvalho da Silva.
A FAPESP também apoiou a partir de 1968 a criação de dois laboratórios na Escola Politécnica da USP, o de Microeletrônica do Departamento de Engenharia Elétrica da USP, pioneiro na América do Sul, e o Laboratório de Biotecnologia Industrial. Este último contribuiu até os anos 1990 para o desenvolvimento industrial com estudos sobre antibióticos, fermentação alcoólica industrial, produção de ração e muito mais.