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Dirigente da FAPESP e professores universitários são perseguidos na ditadura militar

Institucionalização da FAPESP
1968

O AI-5, anunciado em 13 de dezembro de 1968, levou à aposentadoria compulsória muitos professores universitários. Entre eles estavam o físico Mário Schenberg, o sociólogo Florestan Fernandes e Alberto Carvalho da Silva, professor da Faculdade de Medicina da USP e então diretor científico da FAPESP.

William Saad Hossne conta no Dossiê Fapesp, publicado na revista Estudos Avançados: “Um dia recebemos a informação de que um grupo do Comando Militar de São Paulo viria visitar a FAPESP. O prédio ficou cercado e subiram vários oficiais. Queriam saber o que era a FAPESP e que atividade desenvolvia. Os diretores presidente e administrativo, Jayme Cavalcanti e Celso Bandeira de Melo [sic], deram informações detalhadas.” 

Então diretor científico da instituição, Hossne diz que se recusou a fornecer listas envolvendo projetos a serem apoiados ou assessores científicos. Agentes da ditadura também chegaram a insistir numa lista de bolsistas no exterior, seguindo a norma aplicada a outras entidades de apoio. “Esclarecemos que a aplicação dessa norma criaria obstáculos burocráticos e que, além do mais, as decisões da FAPESP se baseavam no mérito, sem qualquer patrulhamento ideológico. Tivemos o apoio irrestrito de dois secretários de Estado – José Mindlin e Marcos Fletcher -, e a FAPESP, ao contrário de outras entidades, nunca submeteu listas de bolsistas no exterior aos órgãos de segurança. Também houve situações em que tivemos de ajudar a tirar bolsistas nossos da prisão, alegando que se tratava de pesquisadores sob nossa responsabilidade”.

Esse momento foi sem dúvida muito duro para diversos estudantes, cientistas, professores e dirigentes. Mas há, ao mesmo tempo, uma movimentação favorável do ponto de vista de infraestrutura: o ensino superior se expandiu neste período e, além disso, foram criadas agências e políticas de financiamento para a ciência pelo governo federal. O trabalho da FAPESP, ainda que no âmbito do Estado de São Paulo, certamente foi impactado por este contexto.

“A FAPESP, apesar de ter sua imagem associada a universitários e intelectuais, sobreviveu às intimidações recebidas, a acusações de que estaria apoiando ‘comunistas’, a pressões para cortar bolsas ou fornecer endereços de bolsistas ‘de esquerda’”, afirmam Francisco Assis de Queiroz e Lincoln Taira, em um dos capítulos do livro “Fapesp – Uma História de Política Científica e Tecnológica”. “Os diretores se mantiveram fiéis ao princípio que norteou a Fundação, de apoiar o pesquisador e seu projeto, independente de posição política, religiosa, etc. (…) A Fundação não só sobreviveu, como se expandiu consideravelmente”.

Apoio da FAPESP a laboratórios

A FAPESP apoiou, em 1968, a criação de dois laboratórios na Escola Politécnica da USP, o de Microeletrônica do Departamento de Engenharia Elétrica da USP, pioneiro na América do Sul, e o Laboratório de Biotecnologia Industrial. Este último contribuiu até os anos 1990 para o desenvolvimento industrial com estudos sobre antibióticos, fermentação alcoólica industrial, produção de ração, etc.

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