Anos 1980
"A experiência mostra que o reconhecimento de prioridade para determinados temas ou áreas de pesquisa e a oferta de recursos só se tornam produtivos quando já existem estas condições; na sua falta é condição preliminar desenvolvê-las." (Alberto Carvalho da Silva)
Emenda institui transferência mensal de recursos e a nova Constituição amplia de 0,5% para 1% o valor da receita tributária a ser repassada
Os anos 1980 trouxeram grande avanço na direção da autonomia financeira da FAPESP. Em 16 de dezembro de 1983 foi promulgada a Emenda Constitucional nº 39, conhecida como Emenda Leça, instituindo o repasse orçamentário mensal à FAPESP, calculados em duodécimos da arrecadação prevista. Nove anos depois, em 1989, a nova Constituição do Estado de São Paulo ampliou de 0,5% para 1% o valor da receita tributária paulista a ser repassado anualmente à FAPESP, contemplando o apoio não só à pesquisa científica, como até então, mas também à pesquisa tecnológica.
A fundação também fez mudanças importantes em sua estrutura institucional para coordenar melhor o atendimento às crescentes solicitações de bolsas e auxílios financeiros para pesquisas. Em março de 1981, o Conselho Superior da FAPESP começou a implantar as coordenações de áreas, ou Sistema de Coordenação de Assessoria. O objetivo era o de aprimorar os critérios de seleção de pesquisadores, com a participação de um número maior de especialistas em cada área. De início, foram escolhidos coordenadores em 12 áreas.
Rede ANSP
Em 1988, atendendo à solicitação de pesquisadores das universidades paulistas interessados em facilitar a comunicação entre os centros de pesquisa, a FAPESP aprovou o projeto especial Rede ANSP (Academic Network at São Paulo).
A Rede ANSP foi uma das precursoras da internet no Brasil e a primeira rede a interligar faculdades e universidades. Em geral, desde os anos 1980 em todo o mundo, instituições acadêmicas passaram a ter uma internet diferente, de alta velocidade, específica para educação e pesquisa.
Neste primeiro momento, a rede conectou a FAPESP com o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab), laboratório de física de altas energias especializado no estudo de partículas atômicas, na cidade de Batavia, no estado de Illinois, nos Estados Unidos. A ligação era feita de modo direto por um fio de cobre dentro de um cabo submarino, sem necessidade de discagem.
Por solicitação dos coordenadores do projeto, o Fermilab reconheceu a rede paulista como cooperante e liberou o acesso à rede internacional BitNet (sigla de Because it’s Time Network, uma das redes precursoras da internet, que transportava mensagens de correio eletrônico).
A Rede ANSP começou com cinco nós: a FAPESP como gateway internacional, as três universidades estaduais e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). A equipe de implantação da rede foi coordenada pelos engenheiros Demi Getschko e Alberto Courrege Gomide, pelo especialista em tecnologia da informação Vilson Sarto e Joseph Moussa, especialista em software.
Relembrando esse primeiro momento de conexão, Getschko disse, em entrevista para a revista Pesquisa FAPESP que a rede foi, provavelmente, a primeira da América Latina. “Tanto assim que toda a topologia Bitnet no Brasil passou a ser definida na FAPESP. O roteamento da Bitnet consistia apenas de uma tabela que descrevia quais computadores estavam ligados em que máquinas. Essa tabela era atualizada uma vez por mês, para incluir novas máquinas participantes ou alterar conexões. Roteamento bem pouco dinâmico. […] Um e-mail levava horas, às vezes um dia, dependendo do tamanho da fila de despacho. Mas já era uma maravilha, porque, perto do correio normal, não tinha comparação – era muito melhor”, afirmou.
Além do investimento em equipamentos, a FAPESP contribuiu através do seu Centro de Processamento de Dados, o CDP, tanto em instalações físicas como em pessoal, serviços de natureza técnica e científica e operacionalização da rede.