Anos 1990
"Talvez nossa maior contribuição... tenha sido demonstrar uma visão mais ampla do que seja a pesquisa, inserindo atividades que possam levar a um desenvolvimento tecnológico... sem que essas atividades se confrontem com a missão da instituição."(José Fernando Perez)
Com a ampliação do orçamento, FAPESP reforça seu papel como articuladora entre ciência, indústria e tecnologia
O aumento de repasses garantido pela FAPESP após a promulgação da Constituição Federal, em 1988, e da nova Constituição estadual, de 1989, foi decisivo para a trajetória da fundação durante a década de 1990. Com o orçamento ampliado, a FAPESP passou a investir em iniciativas mais ousadas, multidisciplinares e de maior duração, como os Projetos Temáticos. Também foram iniciadas, a partir de 1997, pesquisas como as do Programa Genoma e do Programa BIOTA, que envolvem grandes equipes, de diversas áreas, e colaborações com redes nacionais e internacionais.
A década de 1990 sobretudo consolida a articulação produtiva da FAPESP com outros setores sociais, como a indústria e o trabalho em parceria com o Estado, firmando-a como instituição capaz de perceber, propor e construir novos caminhos para o desenvolvimento científico e tecnológico.
“Para além do resultado em si, [os novos programas] tiveram o condão de mostrar que a FAPESP estava disposta a atuar na interface que enfeixa o desenvolvimento industrial, ciência e tecnologia”, afirmou José Jobson de Andrade Arruda, membro do Conselho Superior da FAPESP (1991-2003), em depoimento no livro “FAPESP 40 anos: abrindo fronteiras”, organizado por Amélia Império Hamburguer.
O Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), por exemplo, inovou ao oferecer pela primeira vez incentivos para a pesquisa diretamente na empresa, a partir de um pesquisador beneficiado pelos recursos da fundação. Uma prova do sucesso desse tipo de financiamento é a grande quantidade de resultados reportados pela revista Pesquisa FAPESP desde então (veja abaixo). Este tipo de apoio existe até hoje. Na mesma linha, o Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) realiza pesquisas co-financiadas por empresas parceiras.
Os programas BIOTA e Genoma
Resultado da articulação da comunidade científica de São Paulo em torno das premissas da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB), assinada durante a ECO-92 e ratificada pelo Congresso Nacional em 1994, o programa BIOTA-FAPESP foi criado com a missão de mapear e analisar a biodiversidade brasileira.
Segundo Carlos Alfredo Joly, coordenador do programa naquele período, durante a elaboração do projeto as discussões dos fundadores abordavam questões como a “a elevada fragmentação das informações disponíveis sobre a biota do Estado; a inexistência de mapas de campo atualizados e atualizáveis e a indiscutível premência de uma política que contivesse e revertesse o desaparecimento de habitats e espécies”. Além disso, havia distanciamento entre os cientistas e sua produção de informações de alto nível e os órgãos que propunham as políticas de conservação dos recursos naturais do estado.
Desde então, o BIOTA já gerou mais de 5.700 publicações e, desde 2009, passou a influenciar nas políticas públicas através do suporte a decretos e resoluções.
Já o Projeto Genoma, que se fortaleceu a partir de 1997, começou os trabalhos a partir da criação da rede Onsa (sigla em inglês para Organização Virtual para Sequenciamento de Nucleotídeos), reunindo 35 laboratórios e 193 pesquisadores.
O primeiro desafio foi sequenciar o genoma da Xylella fastidiosa: “A operação era complexa e a comunicação um desafio, já que a internet no Brasil ainda não oferecia os recursos atuais. Cada um dos laboratórios recebia da coordenação do projeto fragmentos do genoma da Xylella fastidiosa, fazia o sequenciamento e a montagem de cada um deles e encaminhava o resultado para o Laboratório de Bioinformática da Unicamp”, lembra esta exposição sobre o programa.
O sequenciamento foi concluído em janeiro de 2000 e publicado pela revista Nature. “Como primeira sequência pública de um patógeno de planta de vida livre, o artigo representa um marco científico significativo. Mas também envia um claro sinal político, notadamente o desejo e a capacidade de países como o Brasil de jogar na grande liga”, dizia o editorial da revista, publicada em 13 de julho de 2000. Nas décadas de 2000 e 2010, o programa ainda se desdobraria em pesquisas aplicadas ao tratamento do câncer e num banco de dados aberto de sequenciamentos.
Divulgação científica
Outro grande marco da década, a partir de um projeto iniciado em 1995, é o esforço para a difusão mais ampla de informações sobre ciência para a sociedade. O trabalho começou com o boletim Notícias FAPESP. Com tiragem inicial de mil exemplares, o jornal inicialmente trazia informações da Fundação para os pesquisadores com auxílios em andamento.
Ao longo dos anos, a publicação foi ampliando o seu conteúdo editorial até que, em outubro de 1999, o boletim Notícias FAPESP transformou-se na revista mensal Pesquisa FAPESP, com 46 páginas ilustradas em cores e mais de 22 mil exemplares.
“Há meses, a repercussão crescente do material publicado pelo Notícias FAPESP mostrava que aos poucos ele se transformara em fonte privilegiada de pautas, de consultas e de matérias para as editorias de ciência de jornais, revistas, emissoras de rádio e TV e agências de notícias com sede em São Paulo”, dizia o editorial deste primeiro número em 1999. “O avanço que agora apresentamos em seu projeto editorial, conferindo-lhe uma dimensão inquestionável de revista de divulgação científica, deve contribuir para aprofundar seu caráter referencial”.
O veículo segue ocupando, hoje, importante espaço como fonte de informações para a comunidade científica e tecnológica e é referência em matérias para todos os veículos de comunicação. Também faziam parte dos projetos de ampliação do acesso ao conteúdo científico nos anos 90 o Programa MídiaCiência, a Rede SciELO e o Programa Biblioteca Eletrônica.